Especialistas discutiram os impactos positivos do design autoral para o desenvolvimento social e econômico das comunidades do Vale do Jequitinhonha
Um dos grandes diferenciais da moda autoral é o resgate das tradições e do patrimônio de um território, que possibilitam valorizar os pequenos produtores, as costureiras, as bordadeiras, os mestres de ofício e as pessoas detentoras do saber local. E esse foi justamente o fio condutor do bate-papo “Identidade Cultural e o Resgate do Patrimônio na Moda Autoral do Baixo Jequitinhonha”, ocorrido na tarde da última quarta (23), no Minas Trend.
O encontro destacou o trabalho que o projeto Mãos à Moda, do Sebrae Minas, vem desenvolvendo em Almenara, no Vale do Jequitinhonha, e que resultou na criação da marca coletiva Almenara Têxtil. “É um grupo formado por 50 mulheres, com as quais já trabalhamos há dois anos. Aqui no Minas Trend a marca está lançando a coleção Alma, que mescla moda feminina, infantil, acessórios e casa, trazendo um resgate de técnicas de teares e bordados, com elementos de identidade e história do patrimônio material e imaterial do Jequitinhonha. Um verdadeiro tesouro”, ressaltou.
Um dos convidados do bate-papo foi o artista têxtil, bordadeiro, oficineiro e mestre de ofício, Diomilton Ferraz, que é, inclusive, um dos mestres que inspirou o projeto Mãos à Moda. Ele destacou que a beleza da moda autoral está na aplicação da riqueza dos elementos locais e de tudo aquilo que faz parte do cotidiano de uma comunidade, como as igrejas, os rios e seus canoeiros, as pontes, praças, enfim, tudo que faz parte da memória afetiva das costureiras.
Foto: Reprodução Instagram
“E o Jequitinhonha é muito rico em sua cultura. Por isso, busco incentivar as participantes do coletivo a explorar suas memórias de infância, seus ancestrais, a história de suas famílias. É isso que imprime originalidade a cada uma das peças, sejam elas bordadas ou costuradas”, analisou Diomilton, que destacou ainda que nenhum trabalho é igual ao outro. “O jeito de pegar na agulha, a força que se coloca para bordar, a sensibilidade e olhar de cada uma, tudo isso torna os trabalhos únicos”.
Raquel Canaan pontuou que é justamente esse processo diferenciado de produção da moda autoral que a coloca em um outro patamar no mercado e atinge um público diferente, que não concorre diretamente com aquele que consome as marcas fast fashion. “É uma moda que trabalha com identidade e propósito, que eleva as marcas a um outro nível, contrário a esse do consumo acelerado e descartável. Acredito que esse mercado aqui no Brasil tem um grande potencial e vai crescer cada vez mais pois, culturalmente, somos um país muito criativo. E Minas Gerais se destaca nesse cenário por ser um estado essencialmente industrial e produtor de moda”, afirma.
A gestora do Sebrae disse ainda que existe um consumidor preocupado com os impactos ao meio ambiente, com a economia e a valorização do produtor local. “Seja na geração de empregos, no retorno que determinada comunidade recebe com aquele trabalho, nos saberes que estão sendo resgatados e aplicados de maneira diferente. Enfim, existe um público que quer consumir um produto que siga um conjunto de práticas sustentáveis e sociais que façam a diferença”, analisou.
A consultora técnica na área de Moda & Design e no Fashion Design Hub do Instituto SENAI de Tecnologia Têxtil e de Confecção, Angélica Coelho, também reforçou que a originalidade da moda autoral, da valorização e preservação das origens e das referências culturais gera um potencial enorme para os negócios, pois agrega valor ao produto, sem seguir linhas convencionais e tradicionais. “Isso cria todo um ecossistema promotor pois a moda autoral impulsiona o artesanato, o turismo, o setor agropecuário, enfim, mexe com toda a cadeia produtiva daquele local e fomenta o desenvolvimento social e econômico do município”, afirmou.
O Minas Trend é uma realização da FIEMG, por iniciativa de sua Câmara da Indústria do Vestuário e Acessórios, e suas entidades SESI e SENAI, com patrocínio máster da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (CODEMGE), patrocínios da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC/Fecomércio e da Ventana Serra do Brasil e apoio máster do SEBRAE Minas e apoio do Centro Universitário UNA.