Entrevista: Do mercado de luxo ao fast fashion

Até podemos apresentá-lo como José Eduardo Bertholini, como está na sua certidão de nascimento. Mas quando o assunto é moda, estamos falando de Dudu Bertholini, que tem 38 anos e hoje é um dos nomes mais respeitados desse universo glamoroso. Ele é daqueles que faz de tudo um pouco na vida e, agora, vai para um programa de TV quebrar alguns tabus. Com a sua personalidade forte, principalmente para se vestir, Dudu fala na entrevista sobre o futuro da moda, suas percepções…Ele produziu os desfiles do Fashion For You do RibeirãoShopping.

Dudu, você é do interior e agora veio fazer moda no interior. Como é isso?

Sou endereçado do interior, porque eu nasci em são Paulo, mas a família é de Limeira. Morei em Limeira dos 10 aos 17 anos, sou limeirense de coração, sou interior de coração também. Foram só 7 anos que morei lá, mas os meus vínculos com a cidade são enormes e eu tenho um grande carinho. Eu acho muito legal o seguinte: eu acho que hoje a gente fala de um interior mais globalizado, a gente vive em um mundo encolhido em que a gente cruzou as notícias pela internet e por mais que exista moda, que respeitem a geografia ou mesmo toda a história da cidade, eu acho que a gente vive uma moda mais universal. Então eu gosto muito de poder estar fora do eixo Rio/São Paulo e ajudar a elevar a autoestima dos outros centros que tem um potencial fantástico e a gente poderia estar em outros locais incríveis.

Você já passou por grandes marcas, montou sua marca, acabou na verdade fazendo de tudo um pouco e agora vai estrear na TV como jurado e, ainda vestir a Fernanda Lima. O que falta ainda para o Dudu fazer da vida?

Olha [risos], pra mim é até difícil dizer o que falta fazer, mas o que eu acho mais lindo é que eu já não consigo dizer o que eu faço, eu acho que dizer que sou só estilista ou stylist, consultor de moda, é muito pouco perto daquilo que eu faço. E hoje eu percebo que o que a gente vende é a nossa essência da nossa profissão. Todo território imaginário daquilo que eu posso fazer com verdade, me interessa. Então eu acho que a gente já não fica mais apegada a uma única ideia do que a gente é e, no fundo, estar como jurado, ser stylist, curador, palestrante, parte de uma mesma essência. E o que vem pela frente só o futuro me diz, por mim estou de coração e peito aberto.

Como é cuidar da Fernanda Lima?

Maravilhosa, eu amo a Fernanda, minha parceira, amiga, querida, uma pessoa muito além de um profissionalismo e além de tudo, linda. E uma pessoa comum hoje que entende que tem um espaço para falar de coisas impertinentes importantes, que eram paradigmas e que a gente está quebrando, falando de feminismo, de gênero, racismo e conseguir levar isso pra TV aberta em horário nobre é algo incrível.

Qual a sua avaliação do mercado de luxo e do fast fashion hoje?

Eu acho hoje a moda é feita de nichos e tem espaço para tudo. E o que eu acho é que tanto o fast fashion, tanto o mercado de luxo hoje em dia, a gente tem que pensar em um mundo mais consciente. Eu acho que é ótimo que a gente tenha peças acessíveis a preços democráticos, tanto que uns tem um custo mano ambiental, que seja injusto. Eu acho que a gente pode misturar o fast fashion, eu acho que existe espaço pra tudo e pra democracia, assim como existe espaço para o remind, para o slow-fashion.

Hoje o mercado passa por uma transformação, como é que você imagina a moda daqui há alguns anos? O que vem nessa transformação?

Eu acho que a transformação se resume em duas palavras: tecnologia e sustentabilidade. A tecnologia do final do século XX, revolucionou comportamento e fez com que a internet acelerasse conceitos de moda, que todos nos tornássemos formadores de opinião. Agora, a tecnologia vai mudar de uma forma aplicada, com a roupa. A roupa que é conectada, que ajuda a saúde, realmente a gente acredita que esse mundo estava indo distante, mas essa tecnologia cresce de forma exponencial e é ela que vai revolucionar essa maneira de consumir moda, aliada a ela a sustentabilidade, um mundo mais consciente que preza mais pelo outro e a gente tendo responsabilidade pelo roupa que a gente luta.

Você já se envolveu em um projeto que foi a Catarina Mina, que inclusive tem um lado social que envolve artesãs da região de fortaleza. Como é que foi isso para você? Também mexer com um lado social da moda?

Bárbaro. Assim, quando eu penso hoje em dia o porquê eu trabalho com moda eu penso em dois motivos: um pra que eu possa me envolver em projetos com esse, que é aonde a gente consegue de alguma forma contribuir pra uma marca que tem premiada em sustentabilidade, tem um viés tão humano e por outro que a gente possa elevar a autoestima das pessoas, quebrar padrões, que já não fazem mais sentido no século XXI, e que faça com que cada um se sinta bem na própria pele. Essa é a mensagem que a gente passa aqui por exemplo. Que você respeite seu corpo, sua cor, sua raça, seu gênero, que você seja livre para ser quem você quiser e eu acho que essa é a mensagem mais importante.

Você tem o seu estilo, quando você começou a montar o seu, na verdade se identificar com o seu estilo próprio, você sofreu preconceito? Foi difícil essa mudança?

Olha, ser alguém diferente é logico que é, né, seja pela sua sexualidade, personalidade, mas eu acho que o mais importante é você não julgar os outros para não se sentir julgado, eu já passei por situações de preconceito sim, mas eu passei também por muitas situações de aceitação e amor. Por qual lado eu prefiro olhar? Pelo lado cheio, porque estamos em um mundo mais humano, mais participativo e pensar que moda não pode ser um mercado que as pessoas fazem carão, moda tem que ser um lugar pra elevar a autoestima das pessoas, pra ajudar a buscar beleza e você ser o primeiro, a ser inclusivo, democrático e não julgar os outros, mas entender como eles se comunicam através do que eles usam.

 

Foto: Hugo Battaglion