Durante a cobertura da semana internacional de moda de Nova York, a equipe do portal foi conhecer uma região que concentra toda a parte de estilistas, desenvolvimento de marca, e a parte de aviamento também. No ateliê do estilista brasileiro, Júlio César, do Rio Grande do Norte, fomos conhecer as coleções que desenvolve nos Estados Unidos e também no Brasil. Confira a entrevista.
Estilista Júlio César FOTO: reprodução vídeo Juliana Rangel News
Juliana Rangel: Júlio, você poderia contar um pouco da sua história para a gente?
Júlio César: Meu nome é Júlio César, sou brasileiro, natural de Mossoró, no Rio Grande do Norte, localizado no Nordeste do Brasil. Estou em Nova York há trinta anos, sou estilista, e trabalho também para a loja Pinga Store no Brasil.
Juliana Rangel: Júlio, como são feitas as coleções e registros das peças?
Júlio César: Todas as coleções são feitas no Brasil, desde a fotografia, filmagens, e inclusive o trabalho de divulgação é feito no Brasil. Então, quando eu venho pra Nova York, eu já estou com as coleções prontas e, geralmente, o que eu faço é: separo as peças que são chamadas peças únicas, das peças que eu posso reproduzir. Chamo minhas clientes e algumas lojas para onde eu vendo.
Juliana Rangel: E como é o seu trabalho em Nova York?
Júlio César: Eu dou aulas de corte e costura pra uma atriz da Broadway e tem uma empresa chinesa pra quem eu desenvolvo coleções e tenho muitas senhoras de 50 anos acima, pessoas bem-sucedidas na vida e que gostam de peças únicas, extravagantes muito luxuosas, e aí elas me procuram, para peças especiais.
Eu vou te contar essa história porque é muito interessante. Tem uma peça aqui, uma jaqueta que é feita com pedaços de quimono. Há mais ou menos quatro anos, antes da pandemia ,em 2019, eu cheguei no meu escritório que não era nesse edifício, era no outro, e tinha uma caixa de plástico do lado de fora, na porta com um bilhete dizendo que era para mim. Então, eu abri e tinha uma chave, e um vestido de casamento super antigo. Devia ter uns 100 anos, e com um bilhete pro Júlio, eu fiquei confuso e desci para falar com o porteiro, e o porteiro me disse que a vizinha do mesmo andar teve que ir para o Japão e deixou tudo para mim. Porém, eu não sabia nem o nome dela, então, abri o escritório dela e tinha oito manequins. Eu fiquei com um desses, e liguei para meus amigos que vieram buscar os outros manequins. Ela deixou muitos tecidos, quimonos e até a peruca de gueixa, original mesmo. Usei os tecidos que ela deixou pra mim durante muito tempo. Eu desmanchava os quimonos. Alguns deles eu vendi, mas também desmanchei, fiz jaquetas, fiz saia.
Juliana Rangel: E como o seu trabalho para a Vogue Patterns?
Júlio César: Eu sou o único brasileiro no momento que trabalha para a Vogue Patterns, que agora é britânica. Essa empresa existe há 180 anos e eles vendem os aviamentos, modelagens de todos os tipos e é dividido em categorias – da mais difícil ou mais fácil de se fazer. O que acontece é que as mulheres que gostam de costurar vão pra uma loja de tecido nos Estados Unidos, e a grande maioria dessas lojas, tem um livro que você pode folhear, onde explica pra você o que eles têm de design. Então você pode comprar modelagem e receber em casa, vem no envelope que diz “Júlio César American Designer”, que possui um desenho técnico, que vai explicar os tamanhos, o que é a peça, os materiais que ficariam bom nessa peça e você pode ir à loja e comprar o material que quiser. Você mesmo pode costurar ou pode pedir para uma costureira fazer. É simples de fazer e você compra isso na internet.
Juliana Rangel: Júlio, atualmente onde você mora aqui em NY?
Júlio César: Atualmente, moro em Chelsea na nona avenida com a dezessete. Chelsea foi escolhido recentemente por revistas do mundo inteiro como um dos melhores bairros do mundo para se viver. É um bairro elegante e com bastante restaurantes, é bem familiar e você vê as pessoas caminhando com os cachorros, é realmente muito agradável. Eu trabalho numa região que é o distrito da costura, onde você encontra os tecidos, aviamentos e a empresa de design, como a minha, onde as pessoas podem fazer sua própria modelagem e tudo o que precisar, você encontrará aqui.
Confira a entrevista completa em vídeo:
Juliana Rangel: O que mudou na sua vida quando decidiu morar em NY?
Júlio César: O que mais muda quando você sai do seu país, da sua terra natal, é como você vê a vida, como sendo bem real com si mesmo, muda tudo, mas também muda nada, para mim o que marca a personalidade do ser humano é a infância e adolescência, e eu estava no Brasil. Então mesmo morando aqui há 30 anos, eu sou 100% brasileiro.
Juliana Rangel: Júlio, o que você mais gosta quando visita o Brasil?
Júlio César: Gosto do feijão com arroz e farofa, adoro o Brasil e tenho um sítio, onde tenho os meus cachorros, galinhas, gatos, bode e cabra. Então, essa é a vida do estilista Júlio César quando estou no Brasil. Eu vou para o meu sítio e não tenho que lidar com pessoas, eu lido com a natureza, vou à praia, ando descalço em casa. É esse o Júlio César que não quero que desapareça, é o Júlio César que está trabalhando e fazendo minha arte, deixando uma marca não somente com a minha juventude, deixo aqui também uma marca na cultura americana e o Júlio que tem esse senso de aventura, e de conhecer novas coisas o tempo todo.